Eu queria que você fosse embora.
A frase foi sussurada. A verdade aterradora era que ele tinha perdido ela já. Queria gritar,chorar se rasgar mas não podia. Ele sabia que ela não tinha intenção de magoá-lo, mas era a verdade. Não dava pra pensar em nada, toda força de vontade dele estava entregue a manter o corpo estático, os olhos sem lágrimas, manter a respiração. Todo jorro emocional que fluia em suas veias estava sendo barrado. Seu corpo estava sendo punido. Os braços formigavam, quase doíam. Era o fim doloroso do joguinho. Com mesma naturalidade e simplicidade das outras verdades que ela tão simplesmente sussurava suco de laranja, torta de limão, uma massagem, óleo, no estacionamento, no carro, ficar por cima, ficar por baixo, ser amarrada, tomar um vinho, viajar para a praia, dormir.
A sinceridade de Laura, sempre comoveu o pobre rapaz, ela era um achado, a menina perfeita. Todo jogo de interpretações, "diz que sim mas quer dizer não", não existia. Era tudo simples. Ela dizia o que queria, e ele realizava o desejo dela. Não se sentia escravo ou dependente. Fazia o que fazia de bom grado, não era movido por culpa ou obrigação. Ele estava sendo sincero. Não começou assim. Era como sempre, suspense e ter-que-dizer-o-que-deve-ser-dito, dialogos atraves de roupas, decote quer dizer sim, jeans quer dizer não. Seja ativo mas não demais, seja atacado mas não tarado, elogie mas não exagere, seja ousado mas não atrevido. Chato como sempre, mas sabe como é, tem toda aquela coisa de hormonios. Duro penoso e sem graça, até a primeira noite juntos. Ela estava bebada demais. Dormiu. Ele estava animado demais pra dormir. Não sabia o que fazer com tudo aquilo, esperava que ela acordasse a qualquer momento. E ele estaria ali, pronto para a ação. Nada. Deviam ter passado umas duas horas, para ele eram 20 . O unico movimento no quarto era a respiração dela, o peito subindo e descendo. Ela, subtamente desperta pediu suco de laranja. Foi uma sensação estranha. Era um pedido estranho, mas não passou pela cabeça dele recusar. levantou-se achou laranjas, mas não o espremedor. Espremeu com as mãos mesmo. Uma jarra de suco de laranja. Quando voltou ao quarto. Estava adormecida. Sentiu-se idiota. Tomou um copo de suco e foi dormir. Acordou com beijos, o sorriso e algo sobre estar morrendo de vontade de tomar suco, e como era bonitinho da parte dele ter feito o que ela queria. Ela estava feliz. Houve uma segunda noite. Dessa vez sem restrições, ele ficou bastante satisfeito. Recebeu então seu segundo pedido. A torta de limão. Não podia fazer. Programou-se para ir cedinho na panificadora. Dessa vez acordou-a com beijos e o café da manhã. A torta de limão deixou ela muito feliz. Ele nunca tinha satifeito alguem tão facilmente. Se antes estava levemente interessado na menina, agora ele se entregou totalmente. Fazia já planos em sua cabeça, conforme a cada noite ela revelava um desejo seu, e ele realizava. Ele queria essa sinceridade para sempre, os desejos dela não se limitavam ao desjejum, ele sabia de tudo que normalmente não saberia. Todo o véu de insinuações tinha sido arrancado. Ele estava feliz. E desejava a verdade dessa maneira, franca e sussurada as três da manhã. Ela se sentia sufocada, invadida, frágil. Sem defesas. E nunca suspeitou que falasse enquanto dormia. Quando acordou encarou a cama vazia.
The Future of Orion
Há um dia
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