segunda-feira, 8 de junho de 2009

Mercado M

De todas as regras do Mercado M a mais ridícula é essa:

Nenhum funcionário deverá sentar-se, quando fora de serviço nas cadeiras do supermercado.

Regra essa inventada por Seu Judas Tadeu, o chefe.

Sendo assim os três funcionários regulares, se espremem sobre a caixa de concreto de finalidade discutível, próximo a grade do mercado. A rua é muito movimentada, flui num sentido só, em volta só existem restaurantes baratos e prédios corporativos.
- A vida é simples. Torna-la complicada é nossa mania. Tudo é muito simples. Nascemos, rimos, amamos , morremos. Quem ou o que nos cruza o caminho nesse processo é coincidência.Principalmente nesse mercado.
- Por que você acha isso? Você é tão triste! Diz Verônica que está sentada a direita.
Do outro lado Aline suspira, enquanto meio deitada se encosta no ombro esquerdo de Jonas.
- Acho que nunca vamos sair disso. – Continuou Jonas.
- Tá chegando o inverno. – Respondeu Verônica encarando um carro que tentava estacionar.
- Depois vem a primavera e o verão, e ainda estaremos aqui.
Aline suspira novamente enquanto se ajeita.
- Acho que você tem que se animar Jonas, vamos lá! Quando é seu aniversário?
- Junho.
- Que dia?
- Não importa.
- Credo, hoje você está muito mal humorado. Condenou Verônica.
- A gente podia fazer algo.Que tal. Pegamos óculos, uma peruca. E vamos fazer compras no M. - sugeriu Jonas.
- E se nos descobrirem?
- Não é crime comprar coisas no mercado onde a gente trabalha.
- Por que os disfarces? Perguntou Verônica com a mão na cabeça.Coçava devagar uma ferida imaginária no alto da cabeça.
- Vocês não entendem ? Todo dia todo mês damos duro aqui, servimos todo mundo, sorriso no rosto. Tratamento de rei. Mas hoje nós seriamos reis! Imagine, até o chefe ia sorrir pra gente!
- Talvez dê certo, mas quando? Chegamos quando o mercado abre e saímos quando o mercado fecha, nossa único intervalo são esses 15 minutos. E o tempo passa tão depressa!
Jonas buscou o celular em seu bolso,atingindo sem querer Aline, nada demais. Só um empurrãzinho. Ela voltou a se encostar tão logo Jonas apanhou o celular.
- Temos 10 minutos.
Levantaram se então, correram pro mercado e apanharam uma cesta. Setor de vinhos – Bodegas Del Fin Del Mundo – 80% Cabernet Sauvignon 20% Malbec , Smirnoff, Pitú, refrigerantes. Outro corredor, arroz Tio João, farinha de trigo 5KG, óleo de milho, óleo de soja e óleo de semente de girassol.Velha coça a barriga e encara um lata de pepinos em conserva, milho, ervilha, azeitonas – Odeio Azeitonas . No proximo corredor, queijos, presunto,salame. No ultimo maçã, laranja, carambola – credo!- melancia. Caixa, fila, produtos para escolhas de ultima hora.Jonas pegou uma latinha de refrigerante e um pacote de bolacha. Verônica escolheu um pacote de amendoin enquanto Aline pegou um bombom. Não havia tapete vermelho

É a nossa vez.

O que voces estão fazendo aqui?
Compras ué? Somos clientes também.
Certo, certo.

De volta ao banco improvisado de concreto, Veronica indagou:
- Tá se sentindo melhor agora? enquanto Aline abria o bombom e o enfiava inteiro na boca. Mal conseguiu mastigar a principio, na quarta mastigada, o bombom era irreconhecível.
- Não. Respondeu Jonas.
Já na oitava mastigada, Aline engoliu.