terça-feira, 7 de abril de 2009

Atitude

Carregava consigo uma garrafa vermelha, que facilmente lembrava um cilindro de mergulho.A tampa, feita de borracha preta, projetava uma alça, a única possível. Sustentava a garrafa com um só dedo. Esta sacolejava perigosamente – mas não caia. Era apenas uma garrafa de água. Gostava de roupas bonitas, sapatos legais e odiava quem não era assim. Se encarasse o espelho veria moda – estilo. Este estilo não tocava-lhe o corpo, exceto talvez, pelos cabelos. Ela não gostava de seus cabelos. Esses a lembravam no espelho – Garota, você não é o que você veste – e ela em resposta lambuzava seu cabelo com cremes e punia-o com ferro quente. Ela era meio gordinha. E ao invés de apelar para dietas e muita malhação ela começou a namorar. Impôs como condição para o namorado, que ele continuasse magro como era. Ele desesperado concordou. Ela realmente não gostava das pessoas que andavam por aí. E assim não tinha muitos amigos. Ela gostava, por sua vez, de chegar atrasada. Gostava mesmo. Era uma declaração - Sou mais importante que você. Até que um dia, o ônibus não esperou por ela. Já atrasada trinta minutos. Ela ficou lá. Seus sapatos All Star que exibem pedaços de um hipotético gibi dos anos 70, sua calça Jeans LEVI’S, sua camiseta branca com um pequeno sapinho estilizado, seu brinco que combina com o sapato, seu cabelo alisado, seu namorado magérrimo, sua meia branca com uma única lista, seu corpo gordinho e sua garrafa vermelha, agora vazia.