segunda-feira, 27 de abril de 2009

Excerto

- Se ajeite que já está na hora.
- Onde vamos, Pai?
- Vamos no funeral.
Palavra nova: Funeral. O Carro ligou, o Pai fez o caminho da escola até o morro, aí ele virou e foi reto, virou denovo a esquerda e parou.
- Chegamos filho.
O lugar era bonito, o teto era muito alto, e pedurado tinha umas argolas cheias de lampadas, tinha um jardim, bem pequeno, mas sem nenhuma flor, só tinha grama. O pai pediu informações, as pessoas estavam de preto. O pai foi reto num corredor, e virou a direita na terceira sala, como o homem tinha dito. A sala tinha sete pessoas, apenas uma mulher e apenas uma criança. No centro da sala, uma mesinha com uma caixa de madeira branca. Do lado umas velas e um buquê enorme de flores. Muito maior do que os que o Pai manda pra mãe as vezes, flores amarelas e brancas, e um papel colorido com um pouco de purpurina escrito “Saudades”. O pai chegou perto da caixa e olhou ali dentro, tinha uma menina com uma cabeça muito grande, torta, muito feia.
- Pai o que acontec...
- Shh!
O Pai foi até a mulher e disse:
- Meus Pêsames.
Palavra nova: Pêsames. A mulher agradeceu (?). O pai disse:
- Vamos fazer uma oração?
As pessoas murmuraram. Depois se levantaram e deram as mão como que para brincar de ciranda, mas envolta da caixa branca.
- Senhor Jesus, estamos aqui reunidos em teu nome, para pedir que acolha no seu meio, junto com os anjos e santos a alma de
O Pai fez uma pausa, segurando a mão de seu filho que segurava a mão de um velho que fedia estranho.
-Amélia. Completou alguem antes que se perguntasse.
-Amélia. Esta que pura como criança há já de estar entre os seus. Pai nosso...
Ao dizer Pai nosso, todas as pessoas começaram a falar, com uma voz arrastada. O velho apertava a pequena mãozinha que ele segurava.
- que estais no céu, santificado seja vosso nome, assim na terra como no céu, perdoais os nossos pecados , assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal, Amém.
O pai retomando o controle.
- Ave Maria...
- Cheia de graça, senhor é conosco.
A mulher cai de joelhos e começa a chorar. Ela diz:
Por que? Por que?
O Pai não quis mudar a oração, mesmo com ela chorando daquele jeito. E enquanto a oração continuou seu filho começou a examinar as paredes ignorando o coral e o choro. Nas paredes haviam grandes placas de metal com nomes – Familia Demeneck, Familia Benetti, Familia Souza, Familia (Não dava pra ler porque o buquê tava na frente) e embaixo do nome da familia tinha uma alça, como se desse pra puxar aquela placa, como se fosse uma gaveta.
- Amém.
- Deus, confortai os entes queridos que ficaram e proteja-os do mal. A mulher abaixou a cabeça. Santo Anjo! Mandou o Pai novamente. Desta vez o menino acompanhou forte, por que era a cantiga de ninar.
- Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se ati me confiou, a piedade vina sempre me rege, me guarde, governe, ilumine, Amém.
Ficou tudo muito quieto, o velho largou a mão do menino. A menina que tinha a cabeça inchada tinha algodões enfiados no nariz, na testa dela dava pra ver linhas mais escuras, como se alguem tivesse desenhado com um lapis b2. A testa dela tinha uma metade maior que a outra, parecia que a bola que estava ali dentro estava tentando sair pela esquerda. A boca dela tava meio aberta, ela tinha um corte feio no labio. O Pai ficou ali em silencio por varios minutos. Duas pessoas se levantaram e sairam da sala. O Pai comprimentou a mulher novamente e saiu. Quando o Pai dobrou o corredor os dois homens que tinham saido estavam conversando, com um copo de café na mão. Na outra mão um sanduiche.
- Tô com fome, Pai.
- A gente já chega em casa, filho.